Após a regularização, cerca de 400 mil pessoas ainda permanecem recebendo o benefício como dependentes em famílias mais extensas. O governo ressalta que esse dado evidencia o compromisso em manter informações precisas em uma base que serve como referência para mais de 30 políticas sociais no Brasil.
Outro aspecto ressaltado pelo governo é a estabilidade do número total de beneficiários, que abrange todos os membros dos domicílios contemplados, mantendo-se entre 55 milhões e 56 milhões de indivíduos.
O aumento expressivo no número de famílias unipessoais no programa Bolsa Família foi a principal razão para categorizar a situação do Cadastro Único como uma "calamidade" durante a transição de governo. O quantitativo dessas famílias aumentou de 1,84 milhão em dezembro de 2018 para um pico de 5,88 milhões em dezembro de 2022, representando um crescimento de 220%. No mesmo intervalo, o número de outras famílias registrou um aumento de 28%.
Doze meses após a implementação de uma força-tarefa para regularizar o cadastro, o quantitativo de famílias unipessoais no Bolsa Família reduziu-se para 4,15 milhões em dezembro do ano passado, de acordo com informações do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.
O processo de retificação enfrentou obstáculos, como a disseminação de desinformação sobre as regras do programa, o que levou o governo a fortalecer as normas para o cadastramento de famílias unipessoais até que resultados mais consistentes começassem a ser alcançados.
O protocolo atualizado incorpora a assinatura de um termo de responsabilidade por parte do beneficiário, o arquivamento de cópias digitalizadas dos documentos e a realização de visitas por agentes municipais para verificar a autenticidade da condição de viver sozinho. Em agosto, o governo estipulou um limite de 16% para a inclusão de famílias unipessoais na folha de pagamento do programa, sendo a verificação do percentual realizada de município em município.
Com a implementação dessas medidas, a participação de famílias compostas por uma única pessoa que recebem o Bolsa Família diminuiu para 19,7% em dezembro de 2023, comparado ao pico de 27,2% registrado um ano antes.
Letícia Bartholo, Secretária de Avaliação, Gestão da Informação e Cadastro Único, sublinha que o ano de 2023 foi marcado por um processo de reconstrução diante do desafio representado pelo cenário de desinformação. Ela destaca que, pela primeira vez na história, o Cadastro Único (CadÚnico) foi beneficiado por uma campanha de utilidade pública, utilizando meios como rádio, televisão e redes sociais para esclarecer as informações.
Para o ano de 2024, além de prosseguir com a verificação das famílias compostas por uma única pessoa, o Ministério tem como plano realizar uma revisão cadastral para atualizar registros mais antigos, com o objetivo de abranger pelo menos 4,7 milhões de registros, incluindo 1,7 milhão de beneficiários do Bolsa Família.
Embora haja progressos, analistas indicam que a estratégia do governo poderia ser refinada. Laura Muller Machado, economista e ex-secretária de Desenvolvimento Social do Governo de São Paulo, propõe que o governo reconsidere o limite de 16% para famílias unipessoais, levando em conta potenciais disparidades entre diferentes regiões.
Machado ressalta um fenômeno global de aumento das famílias compostas por uma única pessoa e sugere que a implementação de um programa com um valor per capita poderia corrigir automaticamente algumas distorções. Ela destaca a relevância de assegurar um cadastro de alta qualidade e observa que, apesar da exclusão significativa, ainda existe um número expressivo dessas famílias registradas no Cadastro Único.
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